Rio -  A maior zebra da atual edição da Liga dos Campeões tem sotaque português, mas não quer saber de ouvir espanhol. O Apoel, do Chipre, eliminou o Lyon nas oitavas de final do torneio na última quarta-feira, graças a um gol do brasileiro Gustavo Manduca, que levou o jogo para os pênaltis. Elevado ao status de herói no país, o meio-campista, um dos seis brasileiros do elenco, já sonha em ir ainda mais longe na competição, mas admite: quer que a equipe cipriota passe longe de Barcelona e Real Madrid.
Foto: EFE
Manduca disputa a bola com o também brasileiro Michel Bastos, do Lyon | Foto: EFE
Ao mesmo tempo em que o Apoel vencia o Lyon, Messi e companhia humilhavam o Bayer Leverkusen com uma goleada por 7 a 1. Sobre a possibilidade de enfrentar a equipe catalã nas quartas de final, Manduca é sincero. "Não queremos pegar nem o Barça nem o Real Madrid, pois estas equipes estão em outro nível. Contra o restante, temos confiança, até porque vencemos times fortes. Não tememos o Napoli, o Bayern, o Milan. São poderosos, mas não é nada sensacional", analisa o meia, em entrevista ao MARCA BRASIL por telefone.

A confiança de Manduca se baseia no bom ambiente do elenco. Ao todo, são seis brasileiros e dois portugueses, que levam o entrosamento para o gramado. "É curioso, porque, do time titular, só o goleiro, o lateral -direito e o ponta esquerda não falamportuguês. A gente praticamente só fala na nossa língua. Além disso, o pessoal é gente boa, de caráter", elogia.

O bom entendimento da equipe ficou evidente no triunfo sobre o Lyon, considerado amplo favorito na eliminatória. Manduca afirma que o Apoel tinha confiança na classificação. "Desde o primeiro jogo, na  França, quando perdemos por 1 a 0 jogando mal, sabíamos que podíamos fazer melhor. Dava para fazer algo mais, reverter o resultado", conta o brasileiro, que foi expulso no fim da partida. Apesar disso, ele garante que não temeu virar o vilão do conto de fadas cipriota.
Não queremos pegar Barcelona ou Real Madrid, pois são equipes de outro nível
Manduca
"Faltavam cinco minutos para a prorrogação acabar, foi um lance em que eu tinha que matar a jogada. Sempre tive muito respeito aqui, sabia que não seria por um detalhe que perderia isso. Correu tudo bem", disse Manduca, que seria um dos cobradores de pênalti. "Já pensou se eu bato e perco? Futebol tem dessas coisas", indagou, para depois revelar a festa que a torcida fez, não só na capital, Nicósia, mas em todo o Chipre.

"O país parou. Na verdade, ainda está parado. O Chipre é pequeno e só nos últimos anos começou a evoluir no futebol. A relação do povo daqui com o esporte é muito intensa. Está uma loucura".

Aventura no Chipre sem data para acabar

Revelado pelo Grêmio, Manduca já rodou bastante pelo futebol europeu. Ele atuou na Finlândia e ganhou seu primeiro destaque em Portugal, quando chegou a defender o Benfica por pouco tempo. De lá, foi para o AEK, da Grécia, onde fez sucesso. Porém, com a crise econômica no país, acabou acertando com o Apoel em 2010, pelo qual conquistou o Campeonato Cipriota da temporada passada.
Foto: EFE
Ajoelhado, Manduca comemora seu gol contra o Lyon, perto da torcida do Apoel | Foto: EFE
"O Chipre é muito ligado à Grécia. Os cipriotas seguem o futebol de lá, torcem para os grandes clubes de lá. Quando o contrato com o AEK acabou, o time passava por uma crise financeira grande. O Apoel me ofereceu um bom contrato e um projeto interessante. Além disso, eu tinha a chance de jogar a Liga dos Campeões", explica Manduca, que elogia o clube e o país.

"Aqui é muito tranquilo, tem grande qualidade de vida. A estrutura do Apoel é boa, embora não se compare com a do Benfica. O estádio não é luxuoso, mas a torcida sempre lota. Além do mais, tem um bom projeto para o futuro", contou o jogador, que, porém, balança quanto à possibilidade de voltar para o Brasil.
O país parou. Aliás, ainda está parado. A relação do povo com o esporte é muito intensa
Manduca
"Tenho contrato até 2013 e estou satisfeito aqui, mas sempre bate aquela vontade de voltar", admitiu Manduca, que tem carinho especial por dois times. "Eu fiz a base toda no Grêmio, então tenho ligação com o clube, mas sou flamenguista. Se tivesse que fazer um esforço para retornar ao Brasil, seria por eles dois. Mas o Brasil tem grandes clubes, estaria feliz em atuar em qualquer um deles".
Liga dos Campeões: o auge da carreira

Já quanto à seleção brasileira, Manduca não alimenta tanta esperança. "Sou um cara pé no chão, realista, mas sei que sonhar é bom. Porém, o Brasil é um país com jovens de muita qualidade, que têm maior destaque do que eu. Ir para a Seleção não é algo que me faz pensar", reconheceu o jogador.

O topo para o atleta, portanto, é outro: chegar ainda mais longe na Liga dos Campeões. E fazer com que o Apoel, cuja sigla significa Clube Atlético de Futebol dos Gregos de Nicósia, reserve um espaço especial também para os brasileiros.

"Acho que é o meu ápice, sobretudo por causa da forma ativa que tenho na equipe. Tenho feito gols decisivos, como o contra o Lyon, mas desde as fases preliminares tenho tido boa participação", finalizou.